sábado, 9 de outubro de 2010

O aborto do Brasil

Desde o primeiro turno da eleição presidencial já se diagnosticava a tendência virulenta da oposição. Para quem assistiu aos programas de rádio das candidaturas, ficavam bem claras as intenções tucanas. A baixaria do programa de José Serra (PSDB) era explícita. Desde acusar Dilma sobre o mensalão, com o qual ela não teve relação alguma, ligação com Collor(?), com as FARC, até questionar a capacidade da concorrente, citando uma loja de R$1,99 em Porto Alegre que supostamente teria ido a falência sob a gestão de Dilma. Tudo isso, coincidentemente, utilizando um locutor com o mesmo timbre vocal e os mesmos problemas de dicção do presidente Lula. Na televisão, Serra era paz e amor. Deixava os ataques para os “jornais nacionais da vida”. Veja, Estadão e Folha de São Paulo encarregavam-se de dar as manchetes a serem veiculadas na TV.
Serra reuniu-se com generais, bradou contra as intenções do PT, ressuscitou o termo lacerdista da “república sindicalista”, expeliu a baba mais gosmenta de puro golpismo e rançosa da extrema direita. Veio então à tona o tema do aborto. Surpresa geral. Apenas para quem não estava acompanhando os movimentos da candidatura. Era o fundo do poço político, ideológico e democrático do Brasil. Com a pauta do aborto, vieram junto as intolerâncias religiosas, o preconceito contra as mulheres e todo o debate mais falso e perigoso para o Brasil que poderia acontecer.
Agora a eleição é de quem pisa menos em ovos. Quem é mais temente a Deus. É uma lástima que, em nossa já parca e recente democracia damos passos tão largos ao atraso, após passos minguantes de progresso.
Serra, você está fazendo o aborto mais violento já realizado na história brasileira. Você está abortando a política do debate político. Você está abortando qualquer consciência política nascente dessa eleição. Você está abortando um Brasil que está nascendo. Um Brasil que não é refém de ninguém. Um Brasil com “s”. Um Brasil alegre, sustentável, justo, social. Um Brasil em que o povo pode participar!

Nenhum comentário: