terça-feira, 30 de novembro de 2010

Rio 2011, humanizar ou sitiar?

O tema da violência no Rio de Janeiro há décadas vem se tornando constante, devido a todas as manifestações de diversas formas da mesma, seja policial, pelo tráfico, criminalidade e principalmente pela proporção que tomou ao longo deste período. A insustentável relação entre tráfico, que comanda a criminalidade carioca, comunidade e Estado, eclodiu na última semana devido a reação violenta dos criminosos ante as UPP (Unidades de Polícia Pacificadora) instaladas nas comunidades.

O assunto, exaurido pela mídia, é pauta geral dos brasileiros, sejam do Rio ou não. E neste angu, começam a surgir as opiniões formadas, os formadores de opinião, os preceitos, os “solucionadores” de casos das redes de TV, etc. É triste o silêncio obsequioso que a esquerda faz em meio ao tiroteio. Nestes momentos que a esquerda precisa formar opinião, não pode ficar acuada, constrangida, eticamente abalada.

Polícia, forças armadas e repressão do Estado nas comunidades, não são o sonho de nenhum idealista. Porém a relação de medo, autoritarismo e opressão dos criminosos para com a comunidade, sustentadas pela força não pode passar batido, invisivelmente batido. Se o Estado oprime, e oprime, este possui suas leis, que mesmo falhas e parciais, dependendo quase que exclusivamente do bolso e da cor do indivíduo, a criminalidade possui as suas que, não possuem margem a questionamentos e são tão duras quanto a vontade de seu executor. A esquerda precisa entrar no debate e se posicionar, tanto para pautar as intervenções da polícia na comunidade, suas buscas e apreensões que, muitas, inúmeras vezes passam dos limites (nem todo morador de favela é bandido), como para nortear e disputar ideologicamente os rumos da operação na cabeça do brasileiro.

Analisando o DNA das babas que escorrem por estes dias das bocas de comentaristas da velha mídia e de alguns parlamentares alinhados com o verde oliva, podemos perceber o tom imprimido à discussão, no sentido de direcionar o eixo para um estado policial. Alarmante é parcela da população, contaminada pelo picadeiro midiático, sentada no sofá e vidrada na televisão, análoga a espectadores do combate dos gladiadores no coliseu, ansiando pela morte covarde, pelo sangue derramado inutilmente, pela vingança cega e desfocada descarregada sobre o pé-de-chinelo que se apresentar.

Estes aspectos, somados ao volume crescente da mídia, desaguará na pauta parlamentar de direita para o próximo período. Com certeza, por trás deste enfoque dado ao caso, está em qual será o encaminhamento da ocupação dos morros pela polícia. Em 2011, qual será a política de segurança e de ocupação das comunidades? A comunidade, ainda anestesiada pela intervenção não tem como perceber este jogo no momento. Cabe à esquerda fazer o debate da humanização nas comunidades, dos projetos e programas sociais transformadores, da inclusão, em confronto com o que deseja a direita do país: sitiar as comunidades, criando clima de pânico, caráter policial permanente, continuando a opressão sofrida pelos moradores, com o opressor apenas mudando de nome.

Que a esquerda fale, antes que seja tarde. Antes que a opinião pública tenha sido ganha pelo sentimento Capitão Nascimento. Antes que ao olhar para o tubo de imagens sobre a mesa da sala, com a figura de um pardo sob a mira de um cara fardado, a população torça: Mate! Mate! Mate!

domingo, 28 de novembro de 2010

A (de)formação do caráter

A formação do caráter de um povo, ou de uma determinada população, se dá através de inúmeros fatores, alguns mais salientes e evidentes, outros mais sensíveis e até imperceptíveis. No livro Raízes do Brasil, por exemplo, Sérgio Buarque de Holanda, seu autor, nos fornece uma gama de exemplos de como os modos, costumes e caráter português influenciou a formação cultural brasileira.

A partir daí, no dia-a-dia, nossa sociedade vai vestindo novas roupagens, tornando-se mais dinâmica e imediata com a tecnologia, mais liberal em alguns aspectos, enquanto em outros fica estagnada. Mas o fato é que através dessas nuances vai moldando o caráter do povo habitante destas terras.

As culturas política, esportiva, musical, dão ao cidadão e cidadã brasileiros sua cara, suas generalidades com que é visto por quem está de fora e com o que é identificado. Não é a toa que somos vistos através do samba, carnaval, futebol, alegria, etc. Um país litorâneo, com praias paradisíacas, até ontem subdesenvolvido.

Como se sabe, o futebol é o esporte mais praticado e difundido no Brasil. Chamado, inclusive, de paixão nacional. Por esdrúxulo que pareça, tem uma importante relevância na formação do caráter das pessoas. O jogo coletivo, onde sozinho não se chega a vitória, um esporte que o toque de bola entre os companheiros é essencial para chegar ao gol. O vigor, a energia que despende o atleta. A superação, a abnegação, a persistência para superar um adversário mais forte. Tudo isso que existe e é necessário no futebol existe e é necessário também na vida dos brasileiros. Assim como a levadinha com a mão sem o juiz perceber, o empurrão dentro da área no momento do escanteio, os dribles, a ginga, a malemolência.

Porém, vivemos momentos no futebol em que a derrocada da dignidade esportiva acentua-se a reboque do despudor da “prejudicação” alheia para fins meramente irônicos e invejosos ou apenas por vendeta.

Nas rodadas finais do campeonato o assunto primordial é quem entregará o jogo para quem. Quem conseguirá prejudicar o seu rival.

E o chocante são as torcidas, dedicadas, apaixonadas por seus clubes, capazes de viajar quilômetros atrás de seus clubes, torcendo contra si, para prejudicar outrem.

O gosto vicioso desta prática anti-desportiva e impune está se instalando na boca dos brasileiros. Sempre tão acostumados a torcer pela vitória, a olhar para frente, buscar o sonho... Agora pragmaticamente montando estratagemas e esquemas que impeçam o êxito de algum rival, mesmo que tenha que jogar contra o patrimônio.

Não, o torcedor não irá se satisfazer com a vitória do rival. Então que mude-se a fórmula, que volte como era antes, que se crie mecanismos impeditivos. Só não deixem este povo já tão sofrido e lutador, tão aviltado desde seu nascimento, mas mesmo assim tão criativo e perseverante entrar para o time do “torcer contra”, o time do rancor, o time que não evolui.

O brasileiro torce a favor, busca a vitória, supera. No futebol e na vida. Ou alguém acha que um não contamina o outro? O futebol e a vida. Que não tem nada de um misturado ao outro em nossa cultura? Ou alguém tem dúvidas de que a deformação de nosso futebol e dos valores esportivos não vai influir junto a tantos outros fatores contemporâneos para a deformação do nosso caráter?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

La brújula política

Ao contrário dos imparciais Folha de São Paulo, Zero Hora, RBS, Veja, Globo e toda a gama de veículos de comunicação idoneos desse país, este blog possui orientação ideológica e não poderia deixar de mencionar aos seus três ou quatro leitores.

E o faz por métodos científicos.

Está bem, falando sério, há um site na internet que, com algumas perguntas, situa políticamente o participante.

É bem legal e, apesar de ser em espanhol, não precisa ser nenhum portenho para responder as perguntas.

Este blog situou-se da seguinte maneira:

 


Faça o teste também: http://www.politicalcompass.org/es/questionnaire

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O momento histórico agora é outro, Tarso

Tarso Genro (PT) é, sem dúvida nenhuma, uma das figuras de maior expressão da política nacional. Tanto pelas passagens exitosas pelos espaços que ocupou e cargos que exerceu, quanto pelo reconhecimento acadêmico que possui. Tarso é um homem da política. A grande marca negativa de sua história foi ter disputado prévias com Olívio Dutra em 2002.

Este peso que Tarso possui, intensifica-se neste momento em que conquista o cargo de Governador do Estado do Rio Grande do Sul. E Tarso quer, com certeza, potencializar sua influencia política e o reconhecimento de seu nome fazendo um ótimo trabalho enquanto governador.

Apenas uma vez o PT governou o RS, com Olívio Dutra. O presidente do Brasil era FHC. Este via o RS como inimigo, resistência. Estadualmente era um governo com certo apoio popular, mas desprovido de composições de ocasião que dessem sustentabilidade ao governo.

Porém, o maior rival do único governo de esquerda da história do Rio Grande, não era algum tradicional adversário do campo de siglas de centro-direita e direita. O grande adversário de Olívio, o perseguidor implacável, foi a RBS. A emissora e suas marionetes diariamente "fizeram das tripas coração" para desgastar o governo. E de certa maneira conseguiram. Desgastaram. E muito.

Deste governo, é certo que o PT, e não só o PT, tirou vários ensinamentos. Tanto das conquistas, dos avanços, que não foram poucos, como dos estremecimentos e da guerra midiática instalada no pago.

Porém, de 2002 pra cá, muita coisa mudou. Nesta lacuna temporal, existiu um governo Lula e a eleição de Dilma, que sofreu ataque de toda sujeira inimaginável que a direita e a mídia (olha ela aí de novo) poderíam e não poderíam se utilizar. 

Apesar da política hoje exigir de um governo mais composição, coalizão e a tal governabilidade, fazendo "vistas grossas" para aliados-adversários-de-outrora, temos a Rede Globo perdendo o poderio que tinha a 8 anos atrás. O momento histórico agora é outro. A credibilidade das notícias está abalada. A unilateralidade das informações sendo questionada. A acessibilidade digital expandindo-se.

Aqui no RS, apesar da correlação ser mais forte em favor da RBS, Tarso deve lutar para se libertar do grupo midiático dos Sirotski. Tratando-o a pão-de-ló, conseguirá tão somente realizar um desserviço a classe trabalhadora gaúcha. Dando exclusividade para a globinho dos pampas, conseguirá tão somente, fortalecer a fortaleza da direita no RS.

Tarso, com o PT, os aliados históricos, os movimentos sociais, com a classe trabalhadora, com Dilma como presidenta, certamente fará um ótimo governo no RS. Não precisará utilizar-se da retaguarda preconceituosa e atrasada da RBS. Até porque essa retaguarda quer é dar um chute na bunda do PT. O governo Tarso tem condições de iniciar sem esta "parceria" de última-primeira hora. Não necessita da RBS como linha auxiliar do governo. E antes que algum moderado brade sua retórica anti-vanguarda, pondere-se que , com estes argumentos não se está dizendo que rompa contato com a RBS como fez Olívio, nem que os tenha como inimigos declarados. Apenas que não se adoce o bico que é deveras utilizado para vomitar fascismos.

O momento pode não ser o de enfrentar, como bravamente fez Olívio. Mas também não é o de amamentar.