Os portais de transparência, como se não bastasse serem encontrados em uma das sete portas ao final de um labirinto, são corredores com luminosidade ora fraca, obscura, em que força a vista do viajante, ora incandescente em demasia, ofuscando a visão e, em um caso ou outro, obstruindo o objetivo da viajem, a análise dos números e das ações da observada. Além disso, este corredor ora obscuro, ora cegamente claro, tem o assoalho liso e repleto de cascas de bananas, em que o viajante vai escorregando conforme vai seguindo em sua via sacra.
O conteúdo encontrado pelo viajante é como transformistas, em que a pesada maquiagem esconde o rosto e suas linhas, a roupa modela um corpo diferente do que se vê, o salto dos sapatos muda a altura conforme o gosto do transformista e a peruca substitui os cabelos naturais, ou até a ausência dos mesmos, por madeixas reluzentes e de qualquer tonalidade desejada, com corte de sua preferência e com possibilidade de escolha se liso ou crespo ou ondulado ou o que a moda permitir. Lembra um transformista também porque não se vê que escondido, imperceptível e até amarrado, está um baita de um caralho, constrangedor ao transformista, preocupado em escondê-lo bem direitinho, pois ao contrário revelaria ao observador seu maior segredo.
Contudo, o portal, ao contrário do transformista, não tem o direito nem a liberdade de ser o que bem entender. O portal não é um ser pensante, que usufrui sua liberdade, imaginação ou até força da natureza para ser o que lhe vier à mente. O portal é um prisioneiro, um mero reprodutor de números e fatos, trancafiado à dura e penosa realidade, por mais crua e pouco lúdica que seja. O portal tem por dever retratar, não pura e simplesmente alguns números soltos para que alguns contabilistas percebam o quão bem manipulada é aquela peça. O portal deve servir aos leigos. Até porque o termo transparência não deixa margem a interpretações. Transparência todos percebem. Transparência não exige pré-requisito. Transparência não tem casca de banana no chão. E nem caralho amarrado debaixo da saia.