terça-feira, 18 de maio de 2010

Acordo vago


Nesta semana, o presidente Lula aventurou-se nas temíveis terras iranianas para ter com o presidente do eixo do mal, Mahmud Ahmadinejad. Sob protestos de brasileiros acendendo velas contra àquele que nega o holocausto e que manda cortar a cabeça de seus opositores e sob o riso de canto de boca da imprensa majoritária brasileira, Lula tinha a última cartada para acordar o enriquecimento de urânio feito pelo Irã. Última cartada, porque os Estados Unidos, com todo seu poder, decretou esta como última chance do governo brasileiro de tentar algum acordo.
Ok, ok, Tio Sam. Última chance.
Lula, então no Irã, depara-se com a misteriosa ausência do presidente da Turquia no Irã, peça fundamental no acordo, já que a proposta de Lula consistia na entrega de urânio do Irã para a Turquia, onde seria feito o enriquecimento, e posteriormente devolvido ao Irã. Já que o Irã é do mal e pode querer se aproveitar e fazer uma bomba atômica e a Turquia é amiguinha, a Agência Internacional de Energia Atômica via esta como última saída para liberar os iranianos. Claro que a Agência via esta, como uma proposta não factível. Assim como os Estados Unidos, Europa e a imprensa majoritária brasileira.
Lula voltou os olhos do mundo ao Irã, demonstrando o esforço para o acordo, pressionando a Turquia a comparecer ao Irã, contra a vontade estadunidense, já temendo a astúcia do governo brasileiro. Quando a Turquia comparece à mesa, Obama embranquece, Hillary cruza os dedos e o centro de governo estadunidense se queda de joelhos rezando pra São Kennedy intervir. Então começam as negociações, tendo o Brasil como protagonista mundial de uma questão dita sem solução. E qual o resultado da negociação?
Justamente o que a Agência Internacional de Energia Atômica pedia. O Irã entrega o urânio para ser enriquecido na Turquia, que devolve para o Irã utilizar. Sem bomba atômica. Obama toma um lexotan, Hillary xinga o Bill e a Europa começa a fazer ligação internacional para perguntar: E agora?
E agora o Brasil conduziu um dos maiores acordos, de maior importância mundial, de envergadura que vai de tecnológica a bélica. E o presidente Lula costurou o acordo, mesmo contra a vontade dos Estados Unidos, que sempre afirmou categoricamente que o acordo não daria certo porque as intenções do Irã eram apenas construir a bomba atômica. E já que o acordo deu certo, já que Ahmadinejad não vai colocar suas mãos na tecnologia da bomba, é só comemorar.
Negativo. O governo estadunidense considera o acordo vago. E mesmo atendidas as exigências da Agência Internacional de Energia Atômica, seguem ameaçando com a imposição de sansões contra o Irã. Acordo vago? Vagas assim como a suspeita de bomba do Iraque?
E a Europa em coro repete a cantilena estadunidense. E a mídia majoritária brasileira se agarra no último fio podre de argumentação para não dar o devido valor ao esforço de Lula. E os manifestantes brasileiros contrários a Ahmadinejad, mas favoráveis ao estado assassino de Israel, favoráveis a Obama, a Hillary... Se Ahmadinejah é um problema, o Irã é um país que o Brasil tem relações. Se Ahmadinejad é um fascínora, não é do Brasil. Se Ahmadinejad nega o holocausto, aqui no Brasil Lula já disse o que o governo brasileiro pensa e não foi para discutir holocausto que Lula foi ao Irã. E se o Brasil é uma potência internacional graças ao governo Lula, tanto na economia como nas relações internacionais esta tarefa de paz apenas eleva o país e o coloca no foco do debate sobre a cadeira permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. E se Lula recebeu até o Bush...
A mídia rica brasileira coloca em suas manchetes que o mundo não está favorável ao acordo, mas alguns países importantes como a China, por exemplo, já estão se manifestando favoráveis e satisfeitas com o acordo que coloca definitivamente Lula como figura mundial central, de relevância ímpar e uma das mais influentes personalidades do planeta.
Por trás das notícias, abafa.