sábado, 23 de outubro de 2010

O baile dos desmascarados*

O Brasil, em sua recente democracia, chegou em 2010 vislumbrando uma eleição avançada nas bandeiras sociais, com debates em torno de desenvolvimento e distribuição de renda. Após 8 anos do governo Lula, esta eleição possuía todos os elementos para ser um marco na política nacional.
           
Entretanto, os frios números das pesquisas é que foram guias para as ações a serem tomadas pelas candidaturas, a despeito de todo o debate político necessário junto ao eleitorado. Entraram em cena o aborto, a religião na sua forma mais intolerante, bolinhas de papel, tomografias, acusações, meias-verdades, etc. Tudo que possa ludibriar o eleitor e desviar o foco do que realmente deveria ser determinante para a escolha de uma candidatura: a ideologia.
           
 Porém, em meio a esse teatro, algo de positivo surgiu. A imprensa, a mídia brasileira, explicitamente mostra seu lado nessa eleição. Não que o fato da imprensa ser parcial seja positivo, mas o que antes era velado, hoje torna-se público e notório para os eleitores, para os cidadãos, para qualquer um ver. Os primeiros veículos, e de maior alcance, de imprensa a posicionar-se foram a revista Carta Capital e o jornal O Estado de São Paulo, para Dilma e Serra respectivamente. E mesmo os que não têm coragem de, abertamente, posicionar-se, vêem as máscaras caindo-lhes da face e deixando a mostra para a sociedade toda a energia que estes impõem a favor de uma candidatura ou outra. Globo e Record, por exemplo. As duas maiores redes de televisão do Brasil perderam suas máscaras pela estrada e hoje o público já reconhece quem a primeira apóia e quem a outra apóia. O fato positivo de tudo isso é que o eleitor pode olhar para a televisão, ler uma revista ou um jornal e saber que a informação que está sendo transmitida tem lado e é dada a partir daquele juízo de valor e interesses.
           
Para nossa democracia avançar é importante que o cidadão possa julgar e exercer seu senso crítico. O cidadão não pode absorver uma notícia e creditar a ela toda sua fé, quando na verdade o que temos não é noticia e sim propaganda. Isso o move a buscar mais fontes, ou seja, mais informação, sob vários ângulos, várias matizes. É fundamental para Brasil conhecer, descobrir este alinhamento que, se não ideológico, pelo menos eleitoral, da imprensa. Se essa eleição não foi tudo aquilo que tinha potencial para ser, pelo menos em meio a tantos desserviços, presta um serviço: desmascarar as tão propaladas imparcialidades que nunca existiram.

*texto produzido para publicação no jornal Vale dos Sinos
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Evidentemente que tudo isso é muito mais. Mas daí não será publicado no jornal. Pelo menos a ideia central de que as máscaras estão caindo foi passada.

Tem muita coisa em jogo. A velha mídia comanda o país, tanto no "controle social da opinião", quanto o controle político, sempre amparada pelas raposas imundas que desaguam moeda nesses veículos. Estão agindo como se fosse a última eleição da história. Jogando tudo ou nada. Perceberam a derrota política que obtiveram na câmara e no senado e agora estão vendo a vaca ir pro brejo sem galocha.

Só que neste jogo imundo que estão impondo ao país não contavam com o efeito colateral do sistema. Pois é, ao desempenhar este papel(ão) vil e eleitoreiro, deixam o rabo de fora e mostram ao eleitor sua verdadeira face, ou nádega, no caso. Em meio a todos os desserviços da imprensa e da campanha dos tucanos, surgem as máscaras ao chão. O eleitor já sabe quem puxa para qual lado. Agora sabe que não há imparcialidade na mídia. Nem Globo, nem Folha, nem Estadão, nem Veja. Claro que falta muita RBS ainda nesta lista, mas aciona o alerta na cabeça do cidadão.

E o baile está apenas começando. Tem muita música pra banda tocar ainda para todos dançarem.

Só que desta vez desmascarados.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Ei, Serra, tem um bode na sua sala

Ocorreu ontem a noite o debate dos presidenciáveis na Band. O 1º do segundo turno. O tucano, que desde o início da campanha acreditava que sua virada sairia dos debates, não agüentou o téte-a-téte. Dilma foi tudo aquilo que foi suplicado por este blog (Com medo de ser atropelado não se atravessa a rua).

Dilma foi pra cima. Sem ser virulenta. Na política. O tucano se perdeu.

Dilma levou o debate do aborto para o confronto. Elogiou a normativa que regulamenta o aborto para casos de estupro e risco de morte, que foi regulamentada por Serra, na época ministro. Só que levou o tucano para as cordas, como no boxe, e indagou ao neo aliado da TFP e Opus Dei: aborto é caso de saúde ou caso de polícia? E aí Serra, vai ser coerente e sensato ou vai morrer abraçado com a opus dei? Como se diria nos pagos do Rio Grande do Sul, Serra ficou embretado.

Dilma tratou de colocar os “pingos nos is” também na questão das privatizações. Fez o debate político da importância das estatais e fez também a comparação econômica que, com Lula, foi obtido maior lucro aumentando a participação do Brasil na Petrobras do que com a venda feita por FHC e Serra. Com seu “marca-touro”, Dilma colou na paleta do tucano toda a privataria neoliberal e libertina da década de 90.

Dilma falou dos ataques, calúnias e baixarias utilizadas pela campanha de Serra. Além de politizar o debate, confrontar projetos, Dilma deu ânimo aos eleitores. Sai ovacionada e ungida do debate. Serra sai tendo que se explicar. Principalmente sobre a privataria tucana. O bode que estava na sala do PT mudou de paragem. Ou melhor, o cabrito de Rosemary que estava nascendo na sala do PT, foi abortado. Já Serra, tem um enorme bode na sua sala. Um bode gordo e difícil de carregar. O bode da privatização. O bode que ele finge não ver.

Ei, Serra, tem um bode na sua sala!

domingo, 10 de outubro de 2010

Onda verde?

Desde o final do primeiro turno da eleição presidencial, com a subida nas pesquisas de Marina Silva (PV), os analistas detectavam o fenômeno chamado "onda verde".

Ok. O crescimento de Marina levou a eleição para o segundo turno.

Mas foi a onda verde ou a onda suja que levou a eleição para o segundo turno?

Reciclando o lixo

É interessante verificar nestas eleições o quanto temas que “assolam” o país em um momento, tornam-se banais poucos dias depois, conforme o sabor da conjuntura. Certa feita, a pauta era as quebras de sigilo de tucanos e da filha de Serra. A Revista Veja publicou matéria, seus articulistas melaram as teclas dos computadores com o veneno que lhes vertia dos dedos, versando sobre o uso da máquina pública, o direito ao sigilo e toda uma série de baboseiras encrustadas de jargões pra lá de ultrapassados e fedendo a mofo. Nada foi comprovado. Ou melhor, o que foi provado é que existe uma rede de vendas de informações já há muito tempo denunciada e investigada que nada tem a ver com o “totalitarismo petista”.

Mas para quê ficar nesse assunto? Já estava ficando chato isso todo dia na imprensa. Mudança de pauta. Claro, o desgaste já havia sido consumado mesmo.

Surge então a Erenice Guerra. Como se fosse o mal a ser extirpado do mundo. A corrupção em pessoa. Antes mesmo de qualquer investigação a velha mídia já atacava com suas feras amestradas para atacar tão somente o PT. Erenice saiu do governo para ser investigada. E a mídia noticiou que foi demitida. Mas esse assunto também estava ficando chato devido as marteladas matinais seguidas até a madrugada. E não estava rendendo. Nada mais se extraía dalí. Então joga-se ao vento a pauta e aquilo que revoltava apresentadores de telejornais e colunistas gabaritados(?) já nem é mais assunto.

Claro, quem quer saber de Erenice e Receita Federal se podemos falar do aborto, assunto tão importante para o povo brasileiro. Aí voltemos ao século passado ao invés de progredir no debate. Estranho que ao falar de aborto não se comente das inúmeras mortes todos os anos de mulheres em clínicas clandestinas, clínicas fundo-de-quintal, remédios extremamente fortes. Não. Voltemos ao século passado, guerra fria e: a comunista é a favor de que matem as criancinhas!

Mas o aborto, que puxou consigo uma série de penduricalhos religiosos, intolerantes e preconceituosos também já não “assola mais tanto assim”. Daqui a pouco já deve sair outra guloseima estragada do forno do inferno da velha mídia. E aí não se debate mais o aborto. Nunca mais. Ou até que seja conveniente novamente.

O “cidadão-de-bem-que-paga-seus-impostos”, ou seja, o cara da velha direitona lá que acha que ele é que alavanca o país, que gera emprego e tal, que se prepare para nova revolta ao reboque dos colunistas do PIG. Daqui a pouco sai a nova. Ou a nova-velha para ele ficar assolado e depois esquecer como a última.

Esta estratégia, além de ter o objetivo de desgastar Dilma e o PT, deve servir para Serra atrair os eleitores da “onda verde”. Sim. Reciclando esse monte de lixo podre a campanha inteira, só pode ser para sensibilizar os eco-marinistas-capitalistas de plantão.

E a velha mídia parceira preparando o fantoche bobalhão na frente da TV, em catarse, captando as mais tolas teorias conspiratórias com um molho pós-moderno para descer goela abaixo do Homer Simpson.

Por trás das notícias, jogo sujo.

sábado, 9 de outubro de 2010

As meninas e os canalhas

Retirado de http://www.casacinepoa.com.br/o-blog/jorge-furtado/

por Jorge Furtado em 09 de outubro de 2010


No ano passado, em Recife, uma menina de 9 anos, grávida de gêmeos após abusos do padrasto, realizou o aborto legal. Na época, o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, anunciou a excomunhão da garota, da mãe e dos médicos que atenderam a menina. O estuprador não foi excomungado.

José Serra, Indio da Costa e seus companheiros da imprensa demotucana tentam retomar o poder no Brasil, país que governaram por oito anos, antes de Lula. É difícil para a direita usar argumentos racionais, já que seu governo, que alterou a constituição em causa própria, manteve praticamente imóvel a desigualdade social, quebrou o país três vezes, provocou altas taxas de desemprego com índices de crescimento muito baixos e promoveu grossa - e nunca investigada - corrupção nos porões da privataria, terminou seu mandato com baixíssimo índice de aprovação popular.

A situação do Brasil hoje, depois de oito anos do governo petista, é outra: o país cresceu, distribuiu renda, gerou 15 milhões de empregos e incluiu no mercado consumidor mais de 30 milhões de brasileiros saídos da pobreza. As perspectivas são boas, com o petróleo do pré-sal trazendo ao país investimentos que geram empregos e com o governo aprovado por 80% dos brasileiros.

Portanto, sem poder falar de política ou do mundo racional, José Serra, Indio da Costa, alguns nazipastores, a direita e sua imprensa, apelam para o misticismo mais tacanho, tentando ganhar votos com argumentos religiosos.

No primeiros seis meses deste ano, 54.339 mulheres brasileiras foram hospitalizadas em decorrência de tentativas de interrupção de gravidez, abortos provocados. Os métodos mais utilizados são os medicamentos abortivos (falsificados, fabricados sem qualquer controle, vendidos em camelôs), além de chás caseiros e práticas estranhas, como "beber três goles de água e ficar pulando", até procedimentos altamente perigosos, como a introdução de agulhas e talos, ou a utilização de permanganato de potássio e de substâncias cáusticas. Todos os anos, 250 mulheres brasileiras morrem em decorrência de abortos provocados.

José Serra, Indio da Costa, os nazipastores e a imprensa demotucana acham que este assunto é bom para ganhar votos. A campanha petista prefere não manter este assunto na pauta, melhor falar de outra coisa.

Em nome das 100 mil brasileiras que, todos os anos, são submetidas a uma legislação absurda que quer mandar para a cadeia meninas em pânico com uma gravidez indesejada e que, por isso, agridem o próprio corpo com agulhas de tricô ou soda cáustica, declaro aqui que sou inteiramente a favor da descriminalização do aborto no Brasil.

Não sou - nem nunca fui - filiado a partido algum, não faço parte de qualquer campanha que não pode, portanto, ser responsabilizada por minha opinião.

Quanto aos canalhas oportunistas que, em sua cobiça de poder, se utilizam da saúde alheia e da religiosidade que até ontem desprezavam, espero que, se houver um inferno, sejam todos mandados para lá.

O aborto do Brasil

Desde o primeiro turno da eleição presidencial já se diagnosticava a tendência virulenta da oposição. Para quem assistiu aos programas de rádio das candidaturas, ficavam bem claras as intenções tucanas. A baixaria do programa de José Serra (PSDB) era explícita. Desde acusar Dilma sobre o mensalão, com o qual ela não teve relação alguma, ligação com Collor(?), com as FARC, até questionar a capacidade da concorrente, citando uma loja de R$1,99 em Porto Alegre que supostamente teria ido a falência sob a gestão de Dilma. Tudo isso, coincidentemente, utilizando um locutor com o mesmo timbre vocal e os mesmos problemas de dicção do presidente Lula. Na televisão, Serra era paz e amor. Deixava os ataques para os “jornais nacionais da vida”. Veja, Estadão e Folha de São Paulo encarregavam-se de dar as manchetes a serem veiculadas na TV.
Serra reuniu-se com generais, bradou contra as intenções do PT, ressuscitou o termo lacerdista da “república sindicalista”, expeliu a baba mais gosmenta de puro golpismo e rançosa da extrema direita. Veio então à tona o tema do aborto. Surpresa geral. Apenas para quem não estava acompanhando os movimentos da candidatura. Era o fundo do poço político, ideológico e democrático do Brasil. Com a pauta do aborto, vieram junto as intolerâncias religiosas, o preconceito contra as mulheres e todo o debate mais falso e perigoso para o Brasil que poderia acontecer.
Agora a eleição é de quem pisa menos em ovos. Quem é mais temente a Deus. É uma lástima que, em nossa já parca e recente democracia damos passos tão largos ao atraso, após passos minguantes de progresso.
Serra, você está fazendo o aborto mais violento já realizado na história brasileira. Você está abortando a política do debate político. Você está abortando qualquer consciência política nascente dessa eleição. Você está abortando um Brasil que está nascendo. Um Brasil que não é refém de ninguém. Um Brasil com “s”. Um Brasil alegre, sustentável, justo, social. Um Brasil em que o povo pode participar!

Com medo de ser atropelado não se atravessa a rua

Muito falou-se, principalmente na internet, sobre a suposta bala de prata da direita nesta eleição. Especulou-se que viria da Veja, na última hora, em que não se teria mais o horário eleitoral, sem tempo para responder, que viria da Folha de São Paulo, sobre igreja, sobre evangélicos, sobre as FARC, etc.
Durante semanas do primeiro turno este foi o assunto mais instigante e inquietante. A agonia se prolongava a cada capa da Veja, a cada edição do Jornal Nacional... Todos esperávamos ela com aflição. Todos! Até que surge a pauta do aborto ao final do primeiro turno. Com a ida da eleição para o segundo turno, já que os votos migraram para Marina(PV), evangélica, nove entre dez acusam a pauta do aborto como a “bala de prata” deste primeiro turno.
Mas aí é que está. Não teve bala de prata no primeiro turno. O que tivemos foi mais do mesmo. Ataques, ataques, ataques. Contra corrupção, o totalitarismo, o comunismo, o ateísmo... Nada de novo. Nada que o PT já não conheça. Nada que o Brasil já não conheça. A eleição só foi para o segundo turno porque o PT, com medo da tal bala de prata, não pôs a cara pra fora com medo de tomar um tiro. Assim, limitou sua candidata no discurso. Deixou o PIG pautar as respostas de Dilma, que só aparece na defensiva, respondendo acusações, enquanto Serra “nada de braçada”, como se diz por aqui.
A esquerda (e a direita também, é claro) está procurando agora a bala de prata do segundo turno. E ela pode vir. Mas também, como no primeiro turno, a direita pode não ter essa bala de prata. E não cabe ao PT ficar na defensiva, se escondendo da bala. O PT tem que se mostrar, mostrar seu governo, mostrar sua candidata. Fazer a comparação que realmente interessa, que é a dos governos tucanos e petistas. Falar das privatizações. Ir para cima! Até porque a bala de prata, que serve para matar monstros, lobisomens e vampiros, quem deve temer são eles.
À candidata do governo cabe sair de peito aberto na campanha midiática, pra cima, incisiva, que é o jeito que já deu pra perceber que ela é boa (o Agripino sabe disso). Ou então a esquerda vai ficar procurando buraco de bala em defunto que foi envenenado.